Folclore

Folclore brasileiro


Christiane Angelotti

A palavra folclore, segundo o dicionário, significa conjunto das tradições, conhecimentos ou crenças populares expressas em provérbios, contos ou canções.
A palavra folclore foi utilizada pela primeira vez em um artigo do escritor e folclorista britânico William John Thoms, publicado no jornal londrino "O Ateneu", em 22 de agosto de 1846 (por isso 22 de agosto é o dia do folclore, comemorado no Brasil desde 1965). 
No Brasil, o Dia do Folclore foi oficializado em 17 de agosto de 1965 por meio do Decreto nº 56.747, assinado pelo então presidente Humberto de Alencar Castelo Branco e por seu Ministro da Educação, Flávio Suplicy de Lacerda. 
A palavra é formada pelos termos de origem saxônica: "folk", que significa "povo", e "lore", que significa "saber". Portanto, o "folklore" é o saber do povo ou a sabedoria popular.

No Brasil, a palavra adaptada tornou-se "folclore". Folclore é, portanto, tudo que simboliza os hábitos do povo, que foram conservados através do tempo, como conhecimento passado de geração em geração, por meio de lendas, canções, mitos, hábitos (incluindo comidas e festas), utensílios, brincadeiras, enfeites.

Para conhecermos a história de um povo, de um país ou de uma região, é importante que conheçamos a sua cultura, suas tradições, ou seja, o seu folclore. O folclore é uma forma de manifestação cultural dos povos.

No Brasil o folclore recebe influências determinantes dos povos que aqui já habitavam, como os indígenas, e os que vieram depois, como os povos africanos e os europeus. Fazem parte do nosso folclore as canções de ninar que são passadas de pais para filhos, cantigas de roda, brincadeiras, jogos, lendas e mitos, superstições, artes, músicas. Além disso, as danças típicas das regiões e as festas típicas, como a Festa do Boi (do Boi-bumbá ou Bumba-meu-boi, que recebe outros nomes dependendo do estado), as festas juninas, Carnaval, o Maracatu, entre outras, são todas manifestações da nossa cultura.

Os utensílios usados por nossos antepassados para caça, pesca, artesanato e outros, tudo faz parte do folclore. Folclore é cultura e quem estuda as tradições folclóricas de um povo estuda a sua história.

Alguns estudiosos consagrados das tradições folclóricas do nosso país foram: Luís da Câmara Cascudo, Jerusa Pires Ferreira, Mário de Andrade e Veríssimo de Melo. O autor Monteiro Lobato por meio das suas obras também ajudou a propagar lendas e mitos do Brasil.

O Brasil é um país muito grande, por isso cada região tem sua tradição folclórica. Algumas vezes o que muda é o nome de uma determinada festa, lenda ou outra tradição, outras vezes uma festa é mais tradicional em uma região do que em outra, assim como comida, música e danças. Podemos citar alguns exemplos:

Na Região Sul: Temos as danças típicas conhecidas como fandango, o pau-de-fitas, a chula, entre outras. Algumas das festas tradicionais desta região são: a festa de Nossa Senhora dos Navegadores; a festa da uva, festa da cerveja. Além das festas juninas e outras que são tradicionais em todo o país. Algumas das lendas mais conhecidas nesta região são: O Negrinho do Pastoreio, O Boitatá, O Curupira, O Saci-pererê. As comidas típicas são o churrasco, o arroz-carreteiro, a feijoada, o chimarrão (bebida feita com erva-mate, tomado em uma cuia).

Na Região Sudeste: Podemos destacar as danças típicas: a catira, o batuque, o fandango, o samba, a quadrilha, entre outros. As lendas mais conhecidas são: O Lobisomem, A Mula-sem-cabeça, A Iara. As comidas típicas são tutu de feijão, feijoada, galinhada, entre outras.

Na região Centro-Oeste: Podemos destacar a congada, o tambor e a catira nas danças típicas. Entre as lendas a do Lobisomem e do Saci-pererê são das mais conhecidas. Entre as comidas típicas estão os pratos preparados com os peixes dos rios da região.

Na Região Nordeste: Podemos destacar as danças típicas: o frevo, o maracatu, as cirandas, o baião, o coco (também uma dança de roda). As festas tradicionais são muitas, algumas delas: do Senhor do Bonfim, da Iemanjá, Paixão de Cristo, as romarias, como a de Juazeiro do Norte, no Ceará, Vaquejada.

Na Região Norte: Temos as festas do Boi- bumbá, as festas indígenas e outras. O carimbo e a ciranda são algumas das danças típicas da região. Das lendas, podemos destacar a Mãe-d’água, o Curupira, a Vitória-régia, o Uirapuru.

O que citamos aqui é bem resumido, pois a riqueza do nosso folclore é imensa.

Alguns livros interessantes sobre Folclore:

- Folclore & Companhia/ adaptação Robson Alves dos Santos, São Paulo: Rideel, 2002.
- Dicionário de Folclore Brasileiro - Luís da Câmara Cascudo; Global editora.
- Antologia do Folclore Brasileiro - Luís da Câmara Cascudo; Global editora.
- Lendas Brasileiras - Luís da Câmara Cascudo; Global editora.

Proibida a reprodução do texto sem prévia autorização da autora.


Lendas por Regiões do Brasil


Christiane Angelotti

As lendas brasileiras são originárias da mistura dos povos, da nossa colonização e da nossa cultura.

As lendas não são mentiras, e nem verdade absolutas. São histórias que passam por gerações, e nelas são acrescentados elementos, e resistem ao tempo e povoam o imaginário. São como livros, só que não são lidas e sim, ouvidas.

Mito é o personagem o qual a lenda trata, pois a lenda é a história sobre um determinado Mito.

Lendas mais comuns nas regiões do Brasil:

Região Norte
- O Boto
- Vitória-Régia
- Curupira ou Caipora
- Mapinguari
- Boitatá
- Saci-Pererê
- A Origem do Pirarucu
- A Origem do Peixe-Boi
- Capelobo
- Mula-Sem-Cabeça
- Lobisomen
- A Origem da Mandioca
- Onça Maneta
- Onça-Boi
- A origem da Lua
- A Origem do Guaraná
- Iara
- Cuca - A origem do Sol
- O Diabinho da garrafa
- Cobra - Honorato
- Matita Perêra
- Bicho Papão

Região Nordeste
- Vaqueiro Misterioso
- Negro D’Água
- Cabra Cabriola
- Cuca 
- O Diabinho da garrafa
- Quibungo 
- Lobisomen
- Saci-Pererê
- Capelobo
- Mula-Sem-Cabeça
- Origem da Mandioca
- Caipora e Curupira
- Bicho-Papão
- Bicho-Homem
- Cabeça de Cuia

Região Centro-Oeste
- Saci-Pererê
- Nedro-D’Água
- Caipora e Curupira
- Arranca-Línguas 
- Onça maneta
- Cuca 
- Lobisomem
- Bicho-Papão
- Diabinho da Garrafa
- Pai do Mato

Região Sudeste
- Onça maneta
- Cuca 
- Lobisomem
- Bicho-Papão
- Procissão das almas
- Mão cabeluda
- Caipora e Curupira
- O Diabinho da garrafa
- Quibungo 
- Saci-Pererê
- Mula-Sem-Cabeça

Região Sul
- Cuca 
- Lobisomem
- Bicho-Papão
- Saci-Pererê
- Mula-Sem-Cabeça
- O Diabinho da garrafa
- A Gralha Azul
- O Negrinho do Pastoreio
- Procissão das almas
- Mão cabeluda
- Caipora e Curupira
- João de Barro
- Pé de Garrafa 

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Vitória-régia

Versão de Christiane Angelotti



A lenda da Vitória-régia é uma das mais populares do Brasil. Muito conhecida principalmente na região norte do país.

Diz a lenda que há muitos anos, em uma tribo indígena da região Amazônica, os índios acreditavam que a lua era um deus, e quando ela desaparecia no céu era porque havia se transformado em um jovem que descia para escolher uma bela índia para levá-la consigo e assim a transformava em uma estrela no céu. 

As índias da aldeia se encantavam com a história romântica e não temiam serem escolhidas algum dia. Entre elas estava Naiá, uma cunhatã que cresceu ouvindo a lenda. Naiá desejava ser uma das próximas escolhidas e desde seus quinze anos só pensava no momento desse encontro. Começou a ficar triste por nunca ser escolhida.

Certa noite, Naiá, tão obcecada que estava, se encantou com o brilho da lua refletida no lago. De tão fascinada que ficou com aquela luz mágica, acreditou ser um chamado da lua e se atirou nas águas do rio desaparecendo para sempre. 

A lua se comoveu com o destino da jovem índia e a transformou numa linda flor, conhecida como Vitória-régia, que significa "estrela das águas". A Vitória-régia flutua na superfície das águas de alguns rios da Amazônia. Ela é uma flor noturna, que abre ao entardecer e se fecha com o raiar do sol.


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A porca dos sete leitões

Versão de Christiane Angelotti


Porca dos sete leitões, ilustração de Marcos Jardim

A porca costuma aparecer em noites muito escuras, em ruas desertas ou em encruzilhadas e em becos, fazendo grunhidos horripilantes. Ela está sempre acompanhada por seus sete porquinhos.

Contam por aí que um feiticeiro muito poderoso transformou uma baronesa muito má e seus sete filhos em porcos há muito anos. Desde então, ela surge com os filhotes para assustar viajantes noturnos, andarilhos, bêbados, pessoas que voltam de bailes noturnos e quem mais atravessar o seu caminho.

A porca solta fogo pelo nariz e pela boca. Seus filhotes parecem porquinhos comuns, por isso quando confundidos com porcos perdidos, se capturados, ela vai ao encontro deles para libertá-los e assustar quem os capturou.

A porca e seus sete leitões estão condenados a ser assombração até que alguém encontre o anel da baronesa, que está enterrado, e coloquem na pata da porca. Caso isso aconteça o feitiço será quebrado. Mas haja coragem para colocar esse anel na porca que cospe fogo...

Esta lenda é de origem portuguesa e permanece viva principalmente nas regiões centrais e meridionais do Brasil. 

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Para saber mais:
Vasconcelos, J. Leite de. Tradições populares de Portugal. Porto, 1882.
Pires, Cornélio. Conversas ao pé do fogo. 3ª ed. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1927.

Steinen, Karl von den. Entre os aborígenes do Brasil central. Separata da Revista do Arquivo. São Paulo, 1940.

A cidade encantada de Jericoacoara

Versão de Christiane Angelotti

Diz a lenda recontada por anos e anos pelos habitantes de Jericoacoara, cidade localizada no litoral do Ceará, no Brasil, que no lugar onde hoje existe um farol, havia uma cidade maravilhosa, cheia de riquezas, na qual habitava uma linda princesa presa por um encantamento.




Na praia, quando há maré baixa, existe uma passagem secreta, próxima da Pedra Furada, que leva a um túnel subterrâneo, que só se pode entrar engatinhando, e que segue até a Trilha do Serrote, local onde seria o portal da cidade encantada. Porém, não é possível percorrer todo o túnel, pois existe um portão de ferro que limita a passagem.

A princesa foi encantada por uma feiticeira, que escondeu toda a cidade na época das invasões locais com o intuito de protegê-los. O soldado apaixonado pela princesa, um dos primeiros a saber como quebrar o feitiço, morreu em combate e a partir de então todos os homens que tomaram conhecimento da história temeram encontrar a princesa.




A princesa enfeitiçada foi transformada numa serpente de escamas de ouro, que tem a cabeça e os pés de mulher. Uma criatura bastante feia, embora com uma linda cabeça.

A lenda diz que ela só pode ser desencantada com sangue de um humano. No dia em que um jovem oferecer sua vida pela da princesa perto do portão, o portão se abrirá e uma cidade linda e rica surgirá na região do Farol. Com o sangue do jovem será feita uma cruz no dorso da serpente e, assim, a princesa surgirá com toda a sua beleza, e o encanto da cidade será quebrado. Então surgirá na praia um enorme palácio com pedrarias preciosas e a princesa se casará com o homem que a libertou do encanto, pois ele ressuscitará.

Como ninguém quis até hoje dar a vida para quebrar o encanto e conferir se realmente ressucitará, a princesa continua lá na gruta esperando seu salvador.


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O Lobisomem


Versão de Christiane Angelotti

Segundo a lenda, a maldição surge quando um casal, após ter sete filhas, tiver um menino; este menino será um lobisomem. E quando ele completar 13 anos, começará a sofrer as transformações. 


Dizem alguns que há outras formas de passar a maldição adiante: quando um velho lobisomem sente que vai morrer, ele fica sofrendo muito até passar o "encargo" a alguém mais moço. E não consegue morrer antes disso. Se tiver algum jovem por perto, ele pergunta: "Tu queres?" Ingenuamente, o jovem que responder "sim", acreditando ser uma herança ou um presente, será seu sucessor. Só assim o velho lobisomem morre satisfeito, tendo passado a maldição adiante ele terá paz de espírito. Outra forma de sofrer da maldição é se um homem for atacado por um lobo ou por um lobisomem e sobreviver. 


O homem que se transforma em lobisomem é sempre bem magro, de olhos fundos, e muito pálido. Geralmente, é alto. Quase sempre é solitário e mora sozinho, muitos o acham um pouco esquisito e anti-social. 


Nas noites de lua cheia acontece a transformação. O homem perde o controle. Seus músculos crescem, surgem pelos por todo seu corpo. Suas unhas crescem. Seu rosto se modifica e surgem também afiados dentes. Para os que já viram, dizem que a figura do lobisomem é aterrorizante e seu uivo é de arrepiar! 


O lobisomem ataca qualquer um que cruzar o seu caminho. 


Por sorte, retorna à forma humana assim que clareia o dia.


Em alguns lugares do Brasil e do mundo, pois essa é uma lenda comum em vários países, referem-se ao lobisomem como um ser imortal, que não envelhece, não fica doente e, se machucado, possui uma cicatrização rápida. Dessa forma, só é possível matar o lobisomem com um revólver que utilizar uma bala de prata.


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Iara



Versão de Christiane Angelotti


Iara, também conhecida como Mãe D’Água, Uiara, é uma sereia, criatura metade mulher (da cintura pra cima) e metade peixe (da cintura pra baixo). Possui longos e lindos cabelos, alguns dizem que ela parece uma índia com cabelos negros, outros dizem que possui cabelos loiros ou até ruivos. 


Mora no fundo dos rios e costuma aparecer na beira deles ao final da tarde à procura de um companheiro. 


Ela hipnotiza os homens com seu canto e seu olhar. Ao ouvirem o canto da Iara, os homens lançam-se nas águas dos rios para irem ao seu encontro e, na maioria das vezes, acabam morrendo afogados, pois não querem deixar o fundo das águas.  


Bem, é muito difícil um homem resistir ao seu canto hipnotizador e à sua beleza, por isso, meninos, ao se depararem com a Iara, tapem os ouvidos e procurem não olhar para ela!


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A Lenda do Guaraná


Versão de Christiane Angelotti

No meio da floresta Amazônica, viviam os índios Maués e, entre eles, um casal jovem, muito feliz e amado pela tribo. Porém, a felicidade do casal era abalada pela tristeza de não terem filhos.

Aconselhados pelo pajé, resolveram buscar a ajuda de Tupã e pediram-lhe, então, a graça de poder ter um filho. Meses depois, a índia deu a luz a um menino.

O pequeno índio crescia saudável e feliz. Era muito querido por todos, pois era muito bondoso, criativo, prestativo e cheio de alegria. O curumim era a verdadeira sensação da tribo e sua família muito admirada.

A fama do curumim se espalhou pela floresta e chegou ao conhecimento de Jurupari, um espírito do mal. Jurupari, cheio de inveja, passou a acompanhar o pequeno índio. Como podia ficar invisível, ninguém o via.

Certo dia, o curumim saiu sozinho para colher frutos na floresta. Jurupari aproveitou-se da ocasião e transformou-se numa serpente venenosa que picou o menino. O pequeno índio morreu quase que instantaneamente. O veneno da serpente era muito poderoso para o seu frágil corpinho de criança.

Preocupados com a demora do curumim, vários índios da aldeia partiram pela floresta para procurá-lo. Quando encontraram o menino, todos lamentaram o ocorrido. Neste momento, raios e trovões caíram do céu. Os índios diziam ser o lamento de Tupã.

A tristeza pairou sobre a aldeia.

A mãe do curumim morto recebeu uma mensagem de Tupã dizendo que deviam plantar os olhos da criança. Os índios obedeceram ao pedido da mãe e plantaram os olhos do curumim. Algum tempo depois, no lugar em que haviam sido enterrados o olhos da criança, brotava uma linda plantinha, o Guaraná, com fruto vermelho, e que por dentro pareciam os olhos do menino.

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Curiosidades

Guaraná (Paulinia cupana) – do tupi wara’ná. Arbusto trepador que tem propriedades excitantes, pelo conteúdo de cafeína e teobromina.

As sementes maduras do guaraná, depois de torradas e moídas, formam uma massa plástica macia e homogênea de cor cinzenta, que, depois da defumação para secagem, muda para vermelho-escura, às vezes quase roxa, escurecendo com o tempo, devido à oxidação.

É na fase de massa moldável que se preparam os “pães”, de formas cilíndricas, elípticas ou ovais, que, depois de adquirirem consistência extremamente dura e inalterável, são oferecidos no comércio. O “pão” de guaraná é constituído por massa duríssima e, para ser consumido, precisa ser desbastado com lima de aço ou, como o fazem as populações rurais da Amazônia, limado com o osso hióide (erradamente chamado de língua) do Pirarucu.

Como refrigerante, o nome guaraná é reservado à bebida não alcoólica, gasosa, que contenha no mínimo 1% de extrato de guaraná (produto resultante do esmagamento da semente de guaraná torrada), mais açúcar, acidulantes (como o ácido cítrico) e substâncias aromáticas. Muito difundido no Brasil, o guaraná é também exportado; tem ação refrigerante e tônica, sendo rico em cafeína.

No folclore, Guaraná de figuras são enfeites fabricados com sementes de guaraná descartadas como inaproveitáveis para a alimentação, com as quais se faz a massa plástica e que se defuma para endurecer.

Verdadeiros artistas modelam objetos (bandejas, cálices, canetas), frutas (biribás, ananás, mungubas) e animais (antas, quatis, jacarés, macacos, tatus), que são comercializados como curiosidades ou lembranças de viagem pela Amazônia. Os índios Maués preparam uma massa comestível com as sementes desse arbusto.

Fonte:
Grande Enciclopédia Larousse Cultural - São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda, 1988

Boitatá


Versão de Christiane Angelotti

Seu nome, Boitatá, vem da língua indígena e quer dizer cobra de fogo.

Diz a lenda que, certa noite, houve uma imensa escuridão. A Lua e as estrelas não apareceram no céu, a escuridão era total. Tudo estava um enorme breu.

Passado algum tempo, o Sol também não surgiu e ficou tudo na escuridão por vários dias. As pessoas que moravam nos vilarejos estavam passando fome e frio. Não havia como cortar lenha para os braseiros que mantinham as pessoas aquecidas, nem como caçar naquela escuridão. Para piorar tudo, começou a chover sem parar. E a chuva inundou todo o vilarejo e a floresta. Muitos animais acabaram morrendo. Pessoas desapareceram.

Uma cobra chamada pelos índios de boiguaçu, que dormia num imenso tronco, acordou faminta e começou a comer os olhos de animais mortos que brilhavam boiando nas águas. Alguns dizem que eles brilhavam devido à luz do último dia em que os animais viram o Sol. De tantos olhos brilhantes que a cobra comeu, ela ficou toda reluzente como fogo e transparente.

A cobra se transformou em um monstro incandescente, o Boitatá.

Dizem que o Boitatá assusta as pessoas quando elas viajam na mata à noite. Mas muitos acreditam que o Boitatá protege as matas contra incêndios. De qualquer forma, se você encontrar um Boitatá, esteja de óculos escuros ou feche os olhos e fique bem paradinho quase sem respirar!

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Curupira


Versão de Christiane Angelotti

É uma lenda de origem indígena. Também chamado de Caiçara, Pai ou Mãe-do-mato, quando se imagina ser uma mulher.

Entre os índios Tupis-Guaranis, existia uma outra variedade de Curupira, chamada Anhanga, um ser maligno que causava doenças ou matava os índios. Há relatos de entidades semelhantes entre quase todos os indígenas das Américas Latina e Central.

Dizem que ele é um menino de cabelos vermelhos, que possui os pés virados para trás para despistar quem quiser segui-lo. Algumas pessoas descrevem o Curupira como um indiozinho montado em um porco selvagem, outros dizem que tem o corpo coberto por pelos.

Ele cuida dos animais e das florestas, protegendo-as contra a devastação e a caça. Quando entramos na mata e ouvimos barulhos estranhos, que parecem assovios, pode ser ele!

O Curupira é tão rápido que muitas vezes, ao passar pela mata, parece uma  forte ventania. Os índios e os mateiros dizem que ao entrarmos em uma mata devemos levar um presente para o Curupira, assim, ao agradá-lo, não nos perderemos na mata.

O Curupira tem o poder de ressuscitar qualquer animal morto. Os índios Guaranis dizem que ele é o “ Demônio da Floresta”. Há relatos dos jesuítas, na época da colonização do Brasil, de que os índios temiam muito  esse ser.

Variação: Caipora

O nome Caipora vem do tupi e quer dizer morador do mato. Pode ser masculino ou feminino. É uma entidade fantástica pertencente à mitologia tupi, representado de diferentes formas dependendo da região do Brasil.

Em alguns lugares dizem que tem forma de uma mulher  com um pé só e que anda aos saltos. Em outros lugares dizem que é uma criança de cabeça grande. No Sul do Brasil é, em geral, apresentado como um gigante peludo dotado de enorme força física. Nos estados de outras regiões é representado como um pequeno índio, escuro, ágil, nu ou usando uma tanga.

Aparece, às vezes, cavalgando um porco-do-mato enorme e agitando um galho de árvore. Outras vezes está sempre seguido por um cachorro. Para alguns, trata-se de uma versão do Curupira, mas sem os pés voltados para trás.

Em todas as versões, porém, o Caipora é um protetor dos animais e da mata. Permite que os caçadores entrem na mata, em troca de um presente, e permite somente a caça para que se alimentem, castigando-os quando matam mais animais do que o combinado, ou filhotes e fêmeas com crias.

Vários poderes lhe são atribuídos, como, por exemplo, assobiar para enganar os caçadores e ressuscitar animais mortos.

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A lenda da Gralha-Azul



Versão de Christiane Angelotti

Dizem que há muitos e muitos anos, a gralha azul era, na verdade, uma ave fosca, sem uma cor definida. Certo dia, enquanto descansava no galho de uma araucária, sentiu um lenhador golpeando o tronco da árvore que acabou derrubando-a no chão.

Triste e inconsolável, a ave voou bem alto no céu, parecia querer acordar de um pesadelo. Lá ela ouviu a voz de um ser encantado que, comovido com o respeito da ave pela natureza, disse que ia pintá-la da cor azul, igual ao céu. Em troca, ela ajudaria a preservar a floresta plantando sempre mais pinheiros.

Há relatos de que a gralha-azul é uma ave tão protegida, que sempre que um caçador tenta atirar nela, a arma explode em suas mãos.

Curiosidades

A araucária é uma espécie de pinheiro, muito comum na região sul do Brasil, conhecida como pinheiro brasileiro.

A gralha-azul é uma ave que tem por hábito enterrar pinhões em tempos de farta colheita, e assim armazená-los para ter comida garantida em épocas de escassez. Muitas vezes ela não volta para desenterrar, possibilitando que eles germinem e, assim, deem origem a novos pinheiros. Por essa razão, pesquisadores afirmam que a ave é de grande importância para a conservação da floresta de araucárias.

A ave é símbolo do estado do Paraná.

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A Lenda do Uirapuru




Versão de Christiane Angelotti

A lenda do Uirapuru narra a história de um pássaro especial, pois dizem que ele é mágico, quem o encontra pode ter um desejo especial realizado. O Uirapuru é um símbolo de felicidade.

Diz a lenda que um jovem índio apaixonou-se pela jovem índia esposa do grande cacique da tribo.Por se tratar de um amor proibido, não poderia se aproximar dela. O jovem tentou esquecê-la, mas sabendo que ela também era apaixonada por ele, ficava cada vez mais angustiado.

Certa vez o jovem adoeceu e passou mais de um mês com uma febre que não cessava. Todos acreditavam que ele iria morrer.

A jovem esposa do cacique, que estava disposta a fugir com o índio, sabendo de sua doença, fez uma promessa ao deus Tupã de que o esqueceria, caso ele ficasse curado.

No dia seguinte, toda a tribo festejava a cura repentina do jovem. Ele prontamente tentou se aproximar de sua amada, que não correspondeu mais a sua afeição.

Então, ele foi ficando cada vez mais triste e resolveu pedir ao deus Tupã que o transformasse em um pássaro, para que pudesse viver perto de sua amada. Tupã transformou-o em um pássaro vermelho-telha, com um lindo canto.

O cacique, ao ouvir o canto maravilhoso daquele pássaro, ficou tão fascinado que passou a persegui-lo para aprisioná-lo e ter seu canto só para ele. Mas na ânsia em capturar o pássaro, o cacique se perdeu na floresta.

E depois daquele dia, todas as noites o Uirapuru canta para a sua amada. Na esperança de que um dia ela descubra o seu canto e saiba que ele é o jovem guerreiro e, quem sabe, possa desfazer o feitiço.

Curiosidades

O Uirapuru é uma ave muito comum na Amazônia Brasileira. Possui um canto longo, de uma melodia suave. Dizem que ele canta cerca de quinze dias por ano.

Os nativos da floresta relatam que quando o Uirapuru canta, toda a floresta fica em silêncio rendendo-lhe homenagem.

Heitor Villa-Lobos, ilustre compositor brasileiro, em 1917 compôs uma sinfonia intitulada "Uirapuru", baseado em material do folclore coletado em viagens pelo interior do Brasil. Ouça em http://www.museuvillalobos.org.br/villalob/musica/uirapuru.htm

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Saci-Pererê


Versão de Christiane Angelotti

Menino negrinho, levado e arteiro

Só tem uma perna, mas salta de lá pra cá o dia inteiro
A carapuça vermelha o deixa invisível 
Adora traquinagens, se acha invencível. 

Fuma cachimbo

E tem joelho machucado
Mas não se engane, 
Ele não é nenhum coitado. 

Ele mora no mato

E dele toma conta
Com os caçadores desavisados 
Ele sempre apronta

Ele é bom, mas é bagunceiro

Se diverte com a confusão
Some com objetos
Faz trança nas crinas dos cavalos
E adora bagunçar no fogão

Se o leite queimar, a comida estragar

Pode ser coisa do Saci! 

O saci adora assobiar

É o seu jeito de marcar presença
No meio de um rodamoinho de areia
Chega fazendo bagunça.

Proibida a reprodução do texto sem prévia autorização da autora.



Mula sem cabeça


Versão de Christiane Angelotti

A lenda da mula sem cabeça conta a história de uma mulher que manteve ligações amorosas com um padre e por isso foi amaldiçoada. Após receber o castigo, toda madrugada de quinta para sexta-feira a mulher se transforma numa criatura horripilante, uma mula sem cabeça.  A criatura tem corpo de cavalo e no lugar da cabeça chamas de fogo.

Essa lenda tem um cunho moral e religioso, na qual se pretendia intimidar as mulheres para que não mantivessem um relacionamento com os religiosos da Igreja Católica. 

Em alguns países latinos existem outras versões para a origem da mula sem cabeça. Como a  versão da mulher que dormir com o namorado antes do casamento. Esta provavelmente está ligada às tradições das famílias que buscavam controlar os relacionamentos amorosos de suas filhas, sendo uma forma de mantê-las dentro dos padrões morais da época.

Após sofrer o encantamento, a mula sem cabeça percorre campos e matas e ataca quem encontra pelo caminho. Dizem até que ela se alimenta dos dedos do animal que ataca.

Quem diz já ter visto a criatura conta que apesar do nome ela tem cabeça sim, mas como lança fogo pelo nariz e pela boca, sua cabeça fica toda coberta por fogo e fumaça.  Dizem também que nas noites em que ela aparece é possível escutar seus relinchos e galope, lembrando  um cavalo enfurecido. 

Se alguém corajoso conseguir montar a mula e arrancar os freios da sua boca, a maldição é quebrada para sempre e ela vira mulher novamente, caso contrário o encantamento acaba após o terceiro canto do galo ao amanhecer e torna a acontecer na madrugada de quinta-feira da semana seguinte.

A lenda da mula sem cabeça provavelmente teve sua origem nos povos da Península Ibérica, e foi trazida para a América pelos colonizadores portugueses e reforçada pelos espanhóis. No Brasil se espalhou principalmente pela zona rural.

"A violência do galope e a estridência do relincho são ouvidas ao longe. Às vezes, soluça como uma criatura humana", descreve o folclorista Luís da Câmara Cascudo, em seu Dicionário de Folclore Brasileiro.

Um dos elementos mais interessantes da lenda é o fato de que em suas diversas versões é descrito que ela solta fogo pelas narinas. O que é um paradoxo, uma vez que ela não tem cabeça.

De qualquer forma é interessante observarmos também a punição por encantamento exclusivamente direcionada à figura feminina, refletindo  e reforçando os padrões morais da época.

Proibida a reprodução do texto sem prévia autorização da autora.


O Negrinho do Pastoreio


Versão de Christiane Angelotti

No tempo da escravidão no Brasil, havia um fazendeiro com fama por toda a região de ser muito cruel e gostar de castigar seus escravos, inclusive crianças.

Certo dia, sob o ar gelado de um inverno rigoroso, o fazendeiro mandou um de seus mais jovens escravos, um menino de aproximadamente oito anos, para o campo pastorear seus cavalos e potros novos.

Ao entardecer, quando o menino voltou com os cavalos, o fazendeiro reclamou que faltava um deles, o cavalo baio. Ele colocou todos da fazenda para procurá-lo, mas não tiveram sucesso.

O fazendeiro resolveu punir o menino. Como castigo chicoteou a criança até sangrar e mandou que ele continuasse a procurar o cavalo e só retornasse quando o encontrasse. Apavorado, o menino saiu à procura do cavalo baio. Quando finalmente o encontrou, não conseguiu prendê-lo.

Ao retornar à fazenda, o menino encontrou o fazendeiro ainda mais irritado. Ele resolveu castigar ainda mais o menino, que, depois de ser chicoteado, foi amarrado em cima de um formigueiro para passar a noite lá.

No dia seguinte, o fazendeiro retornou ao local e se assustou com o que viu: o menino estava lá, de pé, sem nenhuma marca de chicotada, nem mordida de formigas, e ao lado dele havia uma mulher vestida com um manto azul, ambos cercados por uma luz muito forte. Próximo deles estava o cavalo baio.

Os funcionários da fazenda e alguns escravos gritavam que se tratava da Virgem Maria. O fazendeiro se ajoelhou, pedindo perdão. O menino nada respondeu, beijou as mãos da senhora de manto azul, montou no cavalo baio e partiu a galope.

A lenda do Negrinho do Pastoreio tem origem cristã e data provavelmente do século XIX. Tornou-se popular durante a campanha abolicionista, pois denunciava a crueldade de um senhor de escravos.

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                                    A lenda do Açaí



Versão de Christiane Angelotti

Há muito tempo, quando ainda não existia a cidade de Belém do Pará, vivia no local uma tribo indígena. Na época, a tribo enfrentou longos períodos de seca e escassez de alimentos, e por esse motivo o cacique tomou uma decisão muito cruel: resolveu que todas as crianças que nascessem a partir daquela data, seriam sacrificadas, uma vez que não haveria alimento suficiente para todos.

Porém, Iaça, uma das filhas do cacique, deu a luz a um lindo menino o qual não foi poupado da cruel decisão de seu avô.

A jovem chorava todas as noites com saudades de seu filho, até que em uma noite de lua cheia, ela ouviu o choro de uma criança. O choro vinha da direção de uma  palmeira.

Quando jovem indígena chegou ao local, seu filho a esperava de braços abertos. Radiante de alegria, Iaça correu para abraçá-lo, mas quando o fez, a criança misteriosamente desapareceu. 

No dia seguinte, a jovem mãe foi encontrada morta, abraçada ao tronco da palmeira. Seu rosto trazia um suave sorriso de felicidade e seus olhos negros, ainda abertos, fitavam o alto da palmeira que estava carregada de frutinhos escuros.

Então, o cacique mandou que apanhassem os frutinhos e percebeu que deles poderia se extrair um suco quando amassados, que passou a ser a principal fonte de alimento da tribo. 

Esta descoberta fez com que o cacique suspendesse os sacrifícios e as crianças voltaram a nascer livremente, pois a alimentação já não era mais problema na tribo.

Em agradecimento ao deus Tupã, e em homenagem a sua filha, o cacique deu o nome de AÇAÍ aos frutinhos encontrados na palmeira, que é justamente o nome de IAÇA invertido.

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