A difícil e deliciosa relação de hoje entre pais e filhos


Por Vanessa Ratton

Quando eu fui mãe, aprendi o quanto é difícil exercer o papel. A relação entre pais e filhos tem mudado muito, assim como os valores sociais evoluíram, trazendo coisas boas e ruins. A forma como educamos nossas crianças tem uma importância muito grande no comportamento social de toda uma geração. Cada um de nós é responsável pelo ser humano que gerou e seu comportamento refletirá na sociedade futura. Não é culpa apenas da política, da economia ou da cultura se algo der errado, e principalmente, de nossos pais! É preciso ter diálogo em casa e isso dá um trabalho danado, porque diferente da discussão, que quer impor a sua verdade. O diálogo pressupõe ouvir o outro, se colocar no lugar dele, entender suas necessidades e fazer com que ele lhe ouça também e entenda as suas. E isso não quer dizer que tudo ficará um paraíso.

Construir o diálogo em família

Mesmo após o diálogo, pode ser que tenha que ser colocado o limite dos pais, que tem a responsabilidade pelo menor, e que seu filho fique muito bravo, mas passa... Ele vai testar seu limite, ele vai compará-lo com os pais dos amigos dele, ele vai fazer birra e você, com toda a sobrecarga do seu trabalho, das suas frustrações e incertezas, terá que aprender a conviver com mais isso. Sim, porque pais mesmo amando os filhos erram, não há manual de instrução e cada um é diferente do outro. Mas se, houver amor, perdão, cuidado, gratidão, critérios justos, diálogo, momentos deliciosos juntos, respeito e limite, vocês construirão uma ponte de amizade para toda a vida. E sim, eles só vão reconhecer isso quando forem mais velhos, principalmente quando forem pais, é a vida! E sim, você fez o mesmo com seus pais, na devida proporção da sociedade da época.

Onde buscar ajuda para a paz interior?

Atualmente, pais têm recorrido a profissionais como psicólogos, psiquiatras, psicopedagogos e educadores, na procura de respostas e conselhos sobre o que fazer com seus filhos quando esses costumam apresentar problemas como: comportamentos socialmente inadequados, dificuldades de relacionamento interpessoal, bem como problemas de adaptação escolar e aprendizagem. As maiores queixas ficam entre as dificuldades de convivência familiar, o consumismo e o envolvimento com drogas, fumo e álcool cada vez mais cedo. Muitos se perguntam “o que estará acontecendo com nossos jovens?” E especialistas indicam que a questão poderia ser pensada de outro ângulo: “O que está acontecendo com os pais que parecem estar esquecidos de sua função de educadores?” Isto ocorre porque nossa geração resolveu mudar o jeito de educar os filhos, mas não tem um modelo pronto a seguir, não foi criado desta forma e esbarra em dúvidas e culpa por estar com menos tempo para cuidar das crianças, um mundo mais violento e tecnológico, ou seja, o cenário é desconhecido o que gera mais insegurança. E aí vale a máxima da enfermagem, da educação, é preciso cuidar de quem cuida! Pais precisam ter espaço para si, ficar em paz, em equilíbrio para o desafio que é instruir outro ser no caminho da vida.

Excesso de preocupação com a criança

Com a modernidade, os modos de educação mais repressores foram postos em cheque, e começou a se erguer a bandeira da educação mais liberada para prevenir os “traumas” que uma educação familiar muito repressora poderia causar na vida emocional dos filhos. Especialistas mostram a mudança de paradigma, como o grande problema. Se na Antiguidade, a criança era tratada como um mini adulto, sem direito a desejos e vontades, ou a quaisquer cuidados especiais em respeito à sua condição de criança, nas gerações atuais, pecamos pelo excesso, no sentido inverso, passando a tratar a criança como um rei. Outro ponto de mudança social: as mães, hoje, em sua maioria além da maternidade tem suas carreiras profissionais, o que é positivo. No entanto, há uma diferença entre aquelas que podem escolher uma carga horária reduzida enquanto os filhos são pequenos e as que necessitam trabalhar em um ou mais empregos para poderem sustentar a família, pois são as únicas responsáveis financeiras, deixando de lado o convívio familiar, sem ter outra opção.

Educar não é bater, é dar limite!

Ainda, com o desenvolvimento das pesquisas na área da psicologia e psicanálise, enfatizando a importância da influência do ambiente na formação de um indivíduo tem merecido um maior cuidado por parte de educadores, psicólogos e estudiosos de várias áreas. Muitas são as teorias novas que surgem sobre como proceder, na tentativa de orientar os pais nessa difícil tarefa. Claro que não estamos falando aqui de maus-tratos contra a criança ou o jovem, e isso é uma questão seríssima que vem sendo tratada com muito mais respeito, nos últimos tempos, graças também a essa transformação social que se operou, e que mereceria outro momento de discussão. Mas, nem de longe, podemos pensar que pais e mães não possam repreender seus filhos. Essa é uma função muito importante no processo de educação. A educação é feita com base no afeto que se transmite ao filho, e com base no limite que se pode dar a ele também. A criança precisa conhecer o amor, a amizade, o respeito e a consideração, mas também, quais são os limites que ela tem de respeitar, entre a vida dela e a do outro, para que ela possa tornar-se um ser humano apto para a vida em comunidade.

Sobretudo, criança aprende com o exemplo!

Os pais precisam colocar limites para seus filhos crescerem. Educar dá muito mais trabalho do que deixar a criança ou jovem fazer o que quiser. No entanto, vejo pais sofrendo porque não querendo repetir a relação que tiveram com seus próprios pais ficam permissivos demais, perdendo o controle dos filhos. Na tentativa de serem amigos dos filhos, invertem a hierarquia, e deixam os filhos sem limites. Claro que é importante ter uma relação de companheirismo com crianças e jovens, o que significa dar espaço para eles falarem o seu ponto de vista, ouvir suas aflições, brincar com eles, contar histórias, se interessar pelos seus estudos, conhecer seus sonhos... Ser amigo não é querer ser legal e concordar com tudo. Mas, sobretudo, ensinar pelo exemplo!

Vanessa Ratton é jornalista, mestre em Comunicação e Semiótica. Especialista em Teatro Brasileiro e Psicopedagogia.