Crianças e natureza, uma combinação saudável

Por Christiane Angelotti

Quem vive em grandes cidades, cercado por concreto, fumaça, espaços limitados, gente por todos os lados, sente na pele como a falta de convivência com a natureza afeta nossas vidas. Muitas vezes demoramos a perceber o estresse que isso nos causa. Respirar ar puro, sentir o cheiro de mato, da terra, ter contato com ela, com as plantas, apreciar o silêncio, contemplar a paisagem ao ar livre, todas essas pequenas grandes coisas afetam nossa saúde física, mental e emocional — e não só a nossa, de adultos, mas a das crianças também.

Os ambientes fabricados versus os naturais

Os ambientes destinados às crianças estão cada vez mais artificiais, com menos grama, terra, possibilidade de exploração de outros materiais que não os brinquedos industrializados, sem falar em árvores e plantas. Quando deixamos de oferecer diversidade no ambiente em que a criança vive, limitamos seu aprendizado, sua vivência exploratória, sua curiosidade. Há ambientes destinados às crianças com grama artificial, sintética (Sim, existe, tem como base a sílica, costuma ser colorida e não dá para fazer nada com ela), brinquedos de plástico... Perde-se a possibilidade de manipular materiais diferentes, conhecer texturas, formas e cores não artificialmente fabricadas ou pré-determinadas.

Podemos comparar um “ambiente fabricado” e um “ambiente natural”, como, por exemplo, um parque com árvores, plantas, terra, terreno irregular, raízes, brinquedos feitos com materiais diversos.  O que o segundo proporciona? É um ambiente cheio de vida, de possibilidades, de exploração e que se transforma sempre. Enquanto o primeiro ambiente, que chamamos de “ambiente artificial”, é um espaço com experiências limitadas, de estímulos limitados, muitas vezes planejados, mas que não se abrem para outras possibilidades, como a contemplação, ignorando a possibilidade de troca, de interferências e de transformação que a natureza confere. Olha quantas possibilidades perdemos ao limitarmos o ambiente de brincadeira das crianças, incluindo o respeito pela natureza e o meio ambiente. Como elas aprenderão a respeitar e admirar algo que não conhecem realmente?

Os benefícios da integração com a natureza

Não é à toa que pediatras do mundo inteiro estão cada vez mais receitando clinicamente um maior contato das crianças com a natureza, que convivam com animais, coloquem os pés na terra, brinquem ao ar livre. Recentes estudos em Pediatria apontam vários benefícios na maior integração entre criança e natureza. Os benefícios da vivência de crianças na natureza são inúmeros, muitos já conhecidos e outros ainda em estudo. Entre eles estão o aumento do rendimento escolar nas escolas que investem nessa integração, o aumento da prática de atividades físicas, a diminuição de casos de bullying, o aumento da imunidade, melhoras no sono e na memória, além dos benefícios emocionais e psicológicos. A inteligência da criança se desenvolve com a experimentação, sua interação com o meio e com os outros. Garantir que essas experiências sejam ricas em estímulos é dever nosso, enquanto adultos.
Além de proporcionar benefícios para a saúde e desenvolvimento da  criança, a consciência com o meio ambiente acontece por meio do convívio com a natureza. A criança aprende a cuidar da natureza interagindo com ela, observando o nascimento e crescimento das plantas, brincando com água, observando as cores do céu, os animais, brincando ao ar livre.

Os perigos e os sintomas de uma vida longe da natureza

A privação de natureza na vida das crianças vem sendo estudada há algum tempo e especialistas relatam que as crianças privadas deste convívio tendem a desenvolver uma série de sintomas ligados ao estilo de vida em ambientes fechados, que vão desde a alimentação, com o alto consumo de alimentos processados e industrializados, ricos em sal e conservantes, até o pouco convívio com os pais, o que implica diretamente em sintomas comportamentais e de educação (não é a quantidade de tempo de convivência com os pais a questão, e sim a qualidade dele). Além destes, sintomas como agitação (são crianças que não extravasam energias em brincadeiras ao ar livre), excesso de brincadeiras com eletrônicos, ansiedade, tendência a problemas oftalmológicos (também causados pelo excesso de tempo destinado aos eletrônicos e falta de exercícios para visão a longa distância), solidão (as crianças têm menos amigos), insônia, apatia, fadiga, aumento dos casos de deficiência de vitamina D, causados principalmente por falta de exposição ao Sol, entre outros.

Cidades verdes e futuro do planeta

A natureza proporciona trocas, compartilhamento, exercício da criatividade, atividades em grupo, coisas essenciais para a construção de uma sociedade mais saudável e feliz. As cidades com gestões mais conscientes têm buscado oferecer aos seus moradores espaços alternativos para lazer, avenidas fechadas para propiciar caminhadas, práticas esportivas e espaços para brincadeiras. O ideal é que também ocorram grandes movimentos para revitalizar praças e parques públicos para que possamos ter opções de lazer gratuitas, saudáveis e fora dos shoppings centers. Nas cidades litorâneas com abundância de recursos naturais é mais fácil promover essa integração. Já a relação criança e natureza pode ser incentivada desde muito cedo, nas viagens em família, nos passeios aos parques, nas escolhas de passeio: praça/parques x shoppings. É uma mudança de olhar, de cultura, para a preservação e restauração da saúde das gerações atuais e futuras, a fim de garantir a sobrevivência da nossa espécie e de nosso planeta.

Referências no tema Criança e Natureza

Richard Louv, jornalista e ativista: http://richardlouv.com/
Daniel Becker, pediatra:  http://pediatriaintegral.com.br/
Blog Ser Criança é Natural, no site Conexão Planeta: http://conexaoplaneta.com.br/blog/category/ser-crianca-e-natural/